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Sozinho, mas não deprimido

Mar Benedicto Elizondo Smith

A solidão pode ser o estímulo para estar mais perto de Deus, crescer emocional e espiritualmente e avançar naquilo que Deus quer que façamos na vida.

O ser humano tem a capacidade de se ajustar à novas situações. A complexidade da sociedade moderna, no entanto, tem exercido forte pressão sobre essa capacidade de adaptação. As preocupações com o meio ambiente, com a política ou a segurança e fatores de estresse decorrentes da dinâmica social, cultural, espiritual e de saúde pública, entre outros fatores, podem tornar mais difícil alcançar uma saúde mental estável. Quando tais preocupações não são controladas, a pessoa pode sucumbir e chegar a um estado sensível de vulnerabilidade e até de debilidade. Consequentemente, as situações da vida diária podem transformar uma pessoa que se sente sozinha, em um sentido positivo, fazendo-a passar para um estado de solidão depressiva e negativa.

É mais fácil enfrentar os desafios da vida quando fazemos parte de um grupo de apoio. As pessoas, no entanto, encontram-se sozinhas por várias razões, sejam elas temporários ou situacionais. São circunstâncias que não precisam produzir sentimentos dolorosos de solidão. Saber aproveitar ao máximo essas situações e momentos pode proporcionar oportunidades significativas de introspecção e autoanálise que podem levar ao crescimento pessoal.

O fato de a pessoa estar sozinha pode lhe proporcionar um espaço e tempo valiosos para reflexão pessoal que em outros ambientes poderia ser mais difícil alcançar. Uma avaliação das ações e metas alcançadas, ou mesmo ainda não concluídas, pode levar à reformulação de novas metas e formas de trabalhar, a fim de alcançá-las. Para aqueles que podem desfrutar de um espaço físico isolado em um ambiente de paz e conforto, essa experiência faz com que se torne um agradável local de reflexão, passando a ser um exercício saudável que potencializa o crescimento pessoal.

Estar sozinho não significa necessariamente estar totalmente isolado. Pode exigir iniciativa para encontrar maneiras de compartilhar algum tempo com outras pessoas que têm interesses em comum. Entretanto, a solidão pode fornecer espaço para explorar a base do humor de outra pessoa sem que isso afete negativamente a si mesmo ou os outros.

Estar sozinho não é uma sentença de vida irreversível. Ao manter o foco no que é positivo, é algo que passa a ser visto como uma situação que pode ser mudada. Se as pessoas mantiverem seus pensamentos e ações dinâmicos, isso gerará um humor positivo, permitindo assim que explorem os pontos fortes e os fracos, as ameaças e oportunidades que estão presentes em vários ambientes familiares, profissionais, religiosos e comunitários, e vai dar-lhes coragem para aceitar ou tentar mudar a sua situação.

O humor de uma pessoa não é um destino de “fim de linha” onde ela deverá ficar permanentemente. Assemelha-se mais a uma estação de trem de onde se pode embarcar para outras estações que levam a diversos destinos. A estação de trem não é o destino; é a plataforma que pode dar continuidade e orientação ao caminho da vida. Aplicando esse conceito à condição de se estar sozinho, podemos adotar uma visão positiva quanto a isso, pois podemos formular novas expectativas de enriquecimento pessoal ou de benefício para os outros.

Sentir-se sozinho pode levar algumas pessoas à depressão. No entanto, solidão e depressão não são a mesma coisa. Há uma grande variedade de transtornos depressivos, mas uma característica comum é “a presença de um humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações relacionadas que afetam significativamente a capacidade funcional do indivíduo”1, além de outros sintomas como o embotamento emocional e diminuição da alegria nas atividades da vida diária. Os transtornos depressivos restringem a própria capacidade de seguir em frente na vida de maneira produtiva.

Do ponto de vista da saúde mental, a solidão torna-se nociva, tóxica e psicopatológica quando causa danos a si mesmo ou a outras pessoas.2 A solidão tóxica pode levar a perder a calma, tornando-se um incômodo para os outros, e pode levar a transtornos depressivos graves ou persistentes. Por vezes, a pessoa que vive em uma solidão prejudicial precisa de ajuda profissional para recuperar o otimismo e a esperança no futuro.

Uma vida estruturada de tal forma que mantenha a pessoa constrangida e incapacitada é considerada depressão. Pode levar a pessoa a sofrer um enfraquecimento emocional de longo prazo quanto ao afeto e sentimentos de desesperança. Os transtornos depressivos impedem uma pessoa de experimentar as alegrias da vida ou até mesmo de comemorar as pequenas conquistas. A depressão distorce as emoções, altera a digestão de alimentos e os ciclos do sono e faz com que a pessoa se sinta triste, sem esperança e desanimada na maior parte do tempo. Isso a leva a sentimentos de inutilidade e incapacidade para pensar em termos positivos. Mas não é preciso sucumbir à devastação da depressão. Há esperança!

A solidão pode proporcionar a oportunidade de criar horários e espaços onde as práticas devocionais possam ser nutridas. Mesmo a solidão, vista de forma positiva, pode ser um estímulo para nos aproximarmos de Deus e abraçarmos o Seu chamado para agir dentro da nossa esfera de influência. A solidão permite-nos desfrutar do fruto da paz do Espírito Santo. A paz tem apenas uma fonte: Deus. Ao adotar uma atitude positiva com relação à solidão, podemos fortalecer a nossa fé em Deus.

Abordagens sobre a Solidão, Baseadas nas Escrituras

  1. Abrace a solidão sem vê-la como a ausência do Espírito de Deus em sua vida. O Espírito de Deus é onipresente. Não há lugar no Universo onde Deus não esteja. Você pode ter certeza de que nunca está totalmente só. O Salmo 139:7-103 diz assim: “Para onde me ausentarei do Teu Espírito? Para onde fugirei da Tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a Tua mão, e a Tua destra me susterá.” Lembrar-se de que Deus está próximo, embora invisível, faz com que seja possível abraçar a solidão.
  2. Lembre-se de que Deus está sempre ao seu lado, mesmo quando você se sente só. As pessoas que você considera importantes podem estar geograficamente distantes. As circunstâncias da vida podem impedir que o amor e o apoio cheguem da maneira esperada, especialmente dos pais ou de outras pessoas queridas. Deus não é apenas onipresente, Ele está sempre ao seu lado. No Salmo 27:10, o rei Davi escreveu: “Porque, se meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me acolherá.” (Salmo 27:10).
  3. Resolva estar aberto à cura. Mesmo em nossos piores momentos de confusão ou dor, ou quando experimentamos profunda tristeza, nossas emoções e nosso coração podem encontrar espaço para a cura quando deixamos nossos fardos com o Senhor. Assim diz o Salmo 34:18: “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido.”
  4. Use os momentos de solidão para explorar a missão que Deus confiou a você. Não importa onde você vai estar, há uma missão a cumprir. Nosso potencial criativo é significativamente ativado quando não temos distrações. Olhe ao seu redor e explore o que Deus pode querer que você faça como Seu seguidor e discipulador de outros. Em Mateus 28:20 (a Grande Comissão), Jesus nos chama para “fazer discípulos de todas as nações [. . .] ensinando-os a observar todas as coisas que Eu vos ordenei; e eis que Eu sou convosco todos os dias até a consumação do século.”
  5. Sinta-se confortado, apesar de estar sozinho. Em todo lugar e a todo momento, o Espírito Santo de Deus está presente para confortar e revelar como Deus está agindo em nossa vida para que possamos desfrutar do conforto que só Ele pode oferecer. Ele não nos deixou órfãos; “Voltarei para vós outros” (João 14:18).
  6. Fique sozinho, mas fortalecido para seguir em frente. Além disso, ao passarmos por circunstâncias difíceis, pela separação, doença ou morte, Deus não somente nos conforta em tempos de escuridão, mas também nos ajuda a nos recuperar e a superar nossa provação. O Salmo 23:4 nos diz: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum; porque Tu estás comigo; o Teu bordão e o Teu cajado me consolam.” Continue andando com Ele.
  7. Abrace a solidão como parte da linha do tempo da vida sem se sentir abandonado. Deus nos criou com um propósito. Em nossa vida, esse propósito se cumpre no tempo de Deus, que muitas vezes não coincide com o nosso. Deus nos dá o encorajamento, a força e a motivação de que necessitamos para enfrentar as tarefas diárias. Quanto mais tempo passarmos com Ele, mais cheios de coragem nos sentiremos. Em Deuteronômio 31:8, Moisés fez esta promessa a Israel: “O Senhor é Quem vai adiante de ti; Ele será contigo, não te deixará, nem te desamparará; não temas, nem te atemorizes.” Nessa promessa, também podemos encontrar consolo para a nossa vida hoje, mesmo quando a Sua linha do tempo seja diferente da nossa ou que venhamos a sentir que Ele Se esqueceu de nós.
  8. Seja forte e corajoso apesar de estar sozinho. Às vezes, desafios significativos podem nos intimidar. Se nos afastarmos deles, perderemos os benefícios que poderíamos ter recebido de outra forma. Em vez de vacilar diante de uma oportunidade, considere aproveitá-la. Aplique a promessa em Josué 1:9, que diz: “Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes, porque o Senhor, teu Deus, é contigo por onde quer que andares.”
  9. Use a solidão como uma oportunidade para descansar sua alma. Quando estamos exaustos, é natural nos retirarmos porque o fardo cobra o seu preço em nossa vida. O descanso físico nos fortalece para que possamos sair das dificuldades sentindo-nos revitalizados e restaurados. Mas podemos também estar seguros de que Cristo deseja nos dar descanso quando nos sentimos sobrecarregados. O maior alívio de todos é o perdão da culpa e do pecado que Ele nos dá livremente. Mateus 11:28 nos diz: “Vinde a Mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e vos aliviarei.”
  10. Lembre-se de que mesmo quando estiver sozinho, você pode convidar a presença do Senhor para que esteja dentro de você. O que está impedindo você de permitir que Jesus assuma o controle e faça parte de sua vida? Isso significa apenas abrir a porta do seu coração para que a paz preencha sua vida. Em Apocalipse 3:20, lemos: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, Comigo.”

Discernir novas possibilidades

Estar sozinho não necessariamente anda de mãos dadas com a depressão. Na medida em que preparamos intencionalmente a nossa mente para nos ajustarmos às novas perspectivas da vida, nossas atitudes serão impactadas positivamente. Razões cognitivas, psicológicas, físicas ou socioculturais podem ter nos levado a pensar na solidão como uma deficiência ou condição negativa. Mas cada um de nós pode alcançar seus objetivos, não importa o que nos mantenha sozinhos. A voz de Deus se torna audível na solidão. Na vida de Jesus houve vários períodos de isolamento que foram altamente significativos para Ele. Foram momentos em que Ele foi fortalecido pela solidão e comunhão com Seu Pai.

Quando estamos sozinhos, podemos discernir novas possibilidades para fortalecer a dimensão espiritual de nossa vida. Isso exigirá que não percebamos o fato de estar sozinho como uma condição inevitavelmente limitante ou adversa. Ao contrário, estar sozinho pode proporcionar um ambiente que nos permite crescer.

Somos responsáveis por preparar o cenário para as nossas ações e por criar imagens mentais positivas que contribuirão para uma vida frutífera. A necessidade de ser uma pessoa proativa e vigilante a esse respeito é ainda mais crucial quando os jovens estão longe da zona de conforto proporcionada pela família e amigos que estiveram presentes para apoiá-los nas fases iniciais da vida. O estado de solidão, transitório ou permanente, pode oferecer uma oportunidade para (1) avaliar os indicadores de segurança do nosso ambiente, a fim de identificar espaços onde sentimos uma sensação de proteção física, mental, social e espiritual; e (2) encontrar tempo para reflexão que contribua para a nossa estabilidade emocional. Estar sozinho pode fornecer a clareza para ajudar no ajuste e adaptação às novas condições de vida. Apesar de estarmos sozinhos, devemos buscar, intencionalmente, oportunidades de conexão e vínculo com outras pessoas para promover o nosso bem-estar mental e físico, como tomar a iniciativa de ir à igreja mesmo quando estivermos em uma nova comunidade onde não conhecemos ninguém.

Viver em solidão sem depressão é possível, se cuidarmos do nosso bem-estar mental, psicológico, físico, sociocultural e espiritual em sua totalidade.

Mar Benedicto Elizondo Smith PhD em Educação Inclusiva pela Universidade de Baja, California, México, é Diretor do Centro de Pesquisa Psicológica da Escola de Psicologia da Universidade de Montemorelos, em Montemorelos, México.

Citação Recomendada

Mar Benedicto Elizondo Smith, "Sozinho, mas não deprimido," Diálogo 35:1 (2023): 5-8

Notas e Referências

1 Associação Americana de Psiquiatria, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5 Edição, Revisão de Texto (DSM-5-TR) (Washington, DC: Associação Americana de Psiquiatria, 2022), 177.

2 Irwin G. Sarason e Barbara R. Sarason, eds., Abnormal Psychology: The Problem of Maladaptive Behavior (Saddle River, NJ: Pearson Prentice Hall, 2006).

3 Todos os textos bíblicos neste artigo são citados da Versão Almeida Revista e Atualizada da Bíblia Sagrada, Copyright © 1993, Segunda Edição.

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